domingo, 27 de abril de 2008

Hálito fresco

A halitose é um problema que deve ser encarado de frente

Um relacionamento pode resistir a brigas, ciúme, discórdia e a toda espécie de desentendimentos, mas, quando se trata de mau hálito... Para piorar, quem sofre desse mal não costuma perceber, porque o olfato fica "acostumado" ao cheiro. E nem os muito corajosos ou íntimos têm coragem de dar o alerta vermelho. A halitose não deve, porém, ser encarada como um tabu. Ela não é doença, mas mostra que existe algo de errado no organismo que precisa ser corrigido. Beijos na boca à parte, o importante é estar de bem com a sua saúde.

Bactérias fazem a festa

No Brasil, segundo o especialista em periodontia e halitose, Eduardo Pedrazza Dutra, diretor da ABPO (Associação Brasileira de Pesquisas dos Odores Bucais), de 30% a 40% da população é portadora de halitose crônica. Mas existem, na verdade, vários tipos de mau hálito, porque há múltiplos fatores causadores. A halitose pode ser de origem fisiológica, como é o caso do hálito matinal e da ingestão de alimentos muito condimentados ou fortes; local (boca) ou mesmo sistêmica, no caso de doenças como a sinusite, diabetes e amigdalite, que podem provocar mau hálito.

"Percebi que meu namorado estava ficando distante, não me beijava mais... Achei que tivesse perdido o interesse"

O gastroenterologista Luiz Artur Juruena, chefe do Setor de Gastroenterologia e Gastro-endoscopia do Hospital da Lagoa, no Rio, revela que a halitose é mais comum por problemas relacionados à própria boca - praticamente 90% dos casos. Afinal, ela é o lar de muitas bactérias que fazem um banquete com os restos de alimentos entre os dentes, liberando, com isso, enxofre e provocando mau cheiro."Muitas dessas bactérias se depositam na parte inferior da língua", explica o dentista Paulo Murilo da Fontoura, presidente da Associação Brasileira de Odontologia no Rio (ABO-RJ). Já notou uma placa branca ou amarelada no fundo dela? É o que os dentistas chamam de saburra, tecido epitelial morto e restos de comida - um prato cheio para as bactérias.

Lista negra

Se o seu dentista não constatou nada de errado na sua boca, mas, ainda assim, você é vítima do bafo, trate de procurar um otorrino ou um gastroenterologista, porque aí seu problema pode estar em outra parte do corpo ou até mesmo em certos medicamentos que você usa. "Aquelas bombinhas de asmáticos, por exemplo, costumam provocar mau hálito", garante o Dr. Luiz Artur. "Azia, prisão de ventre, alterações de pH e de movimento do esôfago, refluxos gástricos, tosse, pigarro, rinite, rouquidão... Tudo isso também pode provocar hálito desagradável", completa.

Até o jejum está na lista negra dos causadores da halitose, que não escolhe credo, raça ou classe social. Na verdade, tudo que provoca hipoglicemia - baixa taxa de açúcar no sangue -, como é o caso de longos intervalos sem comer, dietas hipocalóricas e exercícios físicos intensos, pode provocar mau hálito. "Quando eu estava fazendo dieta para ficar com tudo em cima para uma viagem, ficava horas e horas sem comer", conta Ellen Barbosa, fisioterapeuta. Ela afirma ter percebido que as pessoas começaram a falar com ela meio de lado, desviando o rosto, justo nas horas em que ela estava com mais fome. "Passei a prestar atenção no meu hálito e consegui perceber, sozinha, que ele não estava normal", conta.

Isso sem falar no tabagismo. Apesar de a fumaça diminuir a atividade bacteriana na boca, ela prejudica as gengivas e deixa resíduos cujos odores se misturam aos possíveis já existentes, agravando a situação.

Outro fator de extrema importância é o fluxo de saliva, que pode ficar reduzido devido ao stress, à ansiedade, a certos medicamentos e a todo tipo de situação que favoreça a secura, como falar muito e respirar pela boca. "É porque a saliva ajuda a promover a limpeza, "lavando" os resíduos", explica o cirurgião-dentista Paulo Murilo.

E se você trabalha em um local onde as pessoas falam muito e nota que, às vezes, a atmosfera é contaminada pelo bafo de certos colegas ou pelo seu próprio, não se espante. Por pior que seja, isso é normal. Por isso, vale a pena ter sempre uma balinha ou spray refrescante que, nessas situações particulares, funcionam. Mas, atenção, nessas situações, e não sempre.

A hora da verdade

Já foi dito por aí que uma empresa de tecnologia vai desenvolver o primeiro celular que irá avisar seus donos quando eles tiverem mau hálito, detectando-o através de um pequeno chip. Mas enquanto a novidade não chega, vamos ao tradicional: para saber se você tem mau hálito, é possível recorrer a alguns macetes, além do básico "soprar nas mãos em forma de concha": passe o fio dental entre os dentes e verifique a cor e o odor. Se estiver amarelado, com sangue ou odor alterado, você pode ter halitose. Ainda tem dúvidas? Faça o teste da gaze: passe-a na língua e repare nos mesmos quesitos do fio dental.

Para quem achou nojento, vá com fé no método pessoal mais seguro e eficaz: o boca-a-boca. Pergunte a seus parentes, amigos ou pessoas mais próximas se elas sentem um odor desagradável em relação ao seu hálito. O ideal é fazer essa "consultoria" em vários momentos do dia, porque, se o seu bafo for apenas matinal e se resolver após a escovação, então você não é diferente da maioria da população mundial.

Agora, se o problema for crônico, é preciso procurar um especialista capacitado - muitos, aliás, possuem aparelhos específicos para medir o seu hálito. Afinal, mais do que indicador de desordem orgânica, o mau hálito, segundo o cirurgião-dentista Paulo Murilo, é motivo de preconceito, isolamento social e situações bastante embaraçosas.

Foi o caso de Airton Duarte, engenheiro, que recebia indiretas de um colega de trabalho. "Por que todo baixinho tem mau hálito?" - essa era a pergunta feita pelo colega a quem quer que fosse, desde que Airton, também conhecido pela baixa estatura, estivesse por perto. "Era brincadeira, mas eu sabia que era comigo, porque sempre tive mau hálito", explica o engenheiro.

Carolina Dias, administradora de empresas, também já passou por um aperto: ela revela que quase terminou o namoro por causa do seu mau hálito. "Percebi que meu namorado estava ficando distante, não me beijava mais... Achei que tivesse perdido o interesse", lembra. Até que seu companheiro tomou coragem para tocar no assunto, salvando a relação. Juntos, descobriram que sempre quando a alergia de Carolina ataca, o mau hálito vem de brinde. "Não sinto nada, mas já estou procurando tratamento, porque meu namorado reclama, o que, é claro, é compreensível", revela a moça.

Se você não tem colegas tão espirituosos ou namorado tão franco, saiba que, mesmo assim, eles podem dar um jeitinho de te alertar. Amigos, parentes e agregados de pessoas com halitose, atenção! A ABPO tem oferecido um serviço gratuito, super discreto e nem um pouco constrangedor em seu site (www.abpo.com.br). É o S.O.S Mau Hálito, através do qual é possível avisar à pessoa, anonimamente, que ela sofre de mau hálito.

A halitose tem é história! Há uns 3,5 mil anos, o médico grego Hipócrates já receitava um bochecho de vinho com ervas aromáticas para melhorar o odor da boca. E na Roma antiga, onde as mulheres eram proibidas de tomar bebidas alcoólicas, para disfarçar o hálito daquelas que abusavam, era indicada uma mistura de hortelã com mel.Hoje se sabe, porém, que o que deve ser atacado é a origem do mau hálito e não ele em si. Atualmente, existem clínicas odontológicas e médicos especializados no tratamento de halitose. Portanto, não há desculpa para fugir da raia, até porque os tratamentos não são nenhum bicho-de-sete-cabeças.

"Se a pessoa tem uma gengivite, ela vai tratar a gengivite, se tem algum problema gástrico, vai tratá-lo e assim por diante", afirma o cirurgião-dentista Paulo Murilo. O sucesso do tratamento do mau hálito depende, acima de tudo, de um bom diagnóstico. Mas é,claro que o paciente desempenha papel fundamental na manutenção dos resultados, porque os tratamentos consistem geralmente em mudanças de hábitos alimentares, de higiene e daqueles ligados à qualidade de vida.
Quando passamos perfume ele não tende a evaporar? A lógica é a mesma em relação a esses doces, que só mascaram o problema por certo período de tempo
O que não pode é ficar achando que balas e chicletes vão resolver sua vida.

"Quando passamos perfume ele não tende a evaporar? A lógica é a mesma em relação a esses doces, que só mascaram o problema por certo período de tempo",

afirma Paulo Murilo.Ânimo! O mau hálito já tem até dia: o 22 de setembro, Dia Nacional de Combate ao Mau Hálito, conforme estipulou a ABPO.

Prevenindo

Além de visitar o dentista com freqüência, veja outras dicas de especialistas para manter o hálito agradável:

- Higiene bucal: escove bem os dentes, principalmente após cada refeição, e não se esqueça do fio dental. Depois dos cuidados com dentes e gengiva, chegou a hora da língua. Ela deve ser bem limpa com limpadores especiais, à venda nas farmácias, ou com a própria escova de dente, para eliminar a saburra. Se você usa alguma espécie de prótese dentaria, limpe-a bem. O gastroenterologista Luiz Artur recomenda, ainda, o gargarejo com uma pitada de bicarbonato de sódio.

- Alimentação: mantenha uma dieta balanceada, evitando alimentos como alho e cebola, que, além de deixarem um mau hálito de imediato, desprendem substâncias que entram na corrente sanguínea, passam pelos pulmões e voltam a sair pela boca mais tarde. O café, as gorduras, frituras e bebidas alcoólicas, entre outros, também devem ser evitados. Inclua no cardápio alimentos com bastante fibra. Segundo o Dr. Luiz Artur, a maçã, por exemplo, com casca e tudo, é um excelente alimento para a voz, para baixar o colesterol e para auxiliar na prevenção do mau hálito. O ideal é se alimentar a cada três ou quatro horas para evitar o hálito desagradável provocado pelo jejum. Além disso, ele recomenda beber pelo menos 1,5 litros de água por dia.

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